segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Cheguei hoje

Fala sério: não tem dias que você acorda e parece que acabou de chegar de marte? Acabou de descer no espaçoporto (eita palavrinha feia) principal da terra de vera cruz e já percebeu que a patuléia patinou feio na sanidade?

Poizintão, estava eu lendo as noticias da manhã (esporte recomendável a todos) quando me deparei com a seguinte pérola: a Wikipédia vai filtrar a liberdade nos verbetes, ou seja, apenas usuários cadastrados, considerados confiáveis pelo site poderiam alterar os verbetes.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u494496.shtml

Como assim, cara pálida? Usuários confiáveis? Quens? Aqueles que rezam pela mesma cartilha dos "wikipedistas de carteinha"? Santa paciência...

Lembrei de uma vez ter visto um muro branquinho, recem pintado, uns 60 metros de comprimento por uns 3 de altura. Impecável brancura e bem no meio a pichação: "só de sacanagem". Pra mim soou como uma lição de vida.

5 comentários

Divino Leitão disse...

O carinha que bolou a Wikipedia deve ser muito carente. Ainda outro dia estava dizendo que ia "fechar" a dita cuja, por falta de verbas e sei lá mais quais desculpas. Como não fechou é bem provavel que tenha atingido seus objetivos e a "chorada" valeu.
Agora vem com essa história de "liberdade vigiada", fica parecendo aquele plebiscito sobre poder ou não ter porte de arma no Brasil. Já não era permitido antes e mesmo o povão dizendo que preferia que fosse permitido continua não sendo.
Na Wikipédia sempre foi dificil fazer valer um texto babaca ou um fake a não ser quando eram feitos por especialistas e com um propósito, mas neste caso não tem como impedir, estes especialistas não são chamados assim por mero acaso.
De qualquer forma, não fará muita diferença, afinal o maior conteúdo da Wikipédia é mantido mesmo por esses caras, tirar a ralé apenas vai facilitar o trabalho do "altor".
Quanto ao muro branquinho... tenho certeza que se fosse o SEU muro ia adorar pensar em outras coisas pra fazer com o pichador.
Mas sou suspeito, nunca pichei um muro e realmente não tem como saber o benefício que isso traz a quem o faz.

Renato Degiovani disse...

Claro que eu não ia gostar de ver meu muro pichado, mas não é esse o ponto. O ponto é que se você quer uma enciclopédia "aberta", vai ter que aprender a conviver com os pichadores de um jeito ou de outro.

Ou então não diga que ela é uma enciclopédia aberta e sim uma enciclopédia produzida por determinado número de pessoas.

Claudio Costa disse...

OK, mas de olho nos colaboradores a Wikipédia já está há muito tempo, pelo menos desde o quiprocó com o falso perfil do âncora da NBC, a partir do qual passaram a barrar as contribuições de usuários não-cadastrados (não é bom ter o seu filme queimado na mídia estabelecida, mesmo quando você é uma mídia que pretende questionar a mídia estabelecida). Se agora além de registrado, o colaborador precisa também ser confiável (seja lá o que isso for), paciência: como dizem nas placas das obras do metrô, desculpem o transtorno, estamos trabalhando para melhor servi-lo.

De início também achei que essa decisão iria provocar uma grita maior, mas se não o fez, é provável que o comercial da Wikipédia já tenha sido assimilado, a ponto de seus tapumes se misturarem com a paisagem do ciberespaço. Vale dizer: no início, tanto o Google quanto a Wikipédia eram um conceito vago a ser demonstrado - se é popular, deve ser significativo. Um estudante de segundo grau não teria dificuldade em contestar seu valor estatístico, mas a história se encarregou de demonstrar como essa premonição foi certeira: hoje, o senso comum determina que a internet não é movida por "eles" (seja um misterioso big brother ou as grandes corporações); a internet de verdade somos "nós" (seja lá o que isso for novamente).

Como veículo pioneiro, que ao mesmo moldou e foi moldado por esse conceito, não admira que a Wikipédia logo tenha adquirido cacife para, por exemplo, abrir um generoso verbete sobre si mesma (imaginem, lá dentro da vetusta capa de couro vermelho, o verbete "Barsa - s. m. Enciclopédia que veio para reinar sobre as velhas enciclopédias"). E como reza o figurino dos perfis imparciais, ilustrado com uma simbólica fotinha do John Seigenthaler - que, vá lá, não é nenhum anarquista, mas também está longe de fazer jus à imagem de brucutu conservador - como que vociferando para os casuais leitores: "a Wikipédia é um instrumento de pesquisa falho e irresponsável".

Como assim, Grande Chefe Branco? - indagamos, indignados, os súditos e representantes do Senso Comum. Ah, essas elites pensantes e seu (ana)crônico desprezo pelas novas formas de organização e manifestação do pensamento no século 25, blablablá (ontem como hoje, não dá pra discutir com quem tem a manha de editar a informação).

Pois para a maioria de nós, a Wikipédia se tornou insubstituível não só como veículo de compartilhamento da informação, mas também como veículo do moderno processo de fetichização da informação - vide os inesgotáveis debates sobre seus processos de edição, tão bem ilustrados no célebre vídeo que registrou a evolução ao longo do tempo do verbete sobre o uso do trema nos nomes de bandas de heavy metal (http://weblog.infoworld.com/udell/gems/umlaut.html).

Aos poucos, assim, e com a colaboração espontânea de todos (ou, pelo menos, daqueles considerados mais confiáveis), a Wikipédia vai escrevendo sua história como um fenômeno cada vez mais alheio aos debates sobre a sua própria existência. Seria mais o caso, quem sabe, de pesquisar na Wikipédia as razões desse nosso fascínio por mitos que parecem pairar acima do bem e do mal.

Renato Degiovani disse...

Na verdade, já faz algum tempo que existe na Wikipédia o sentido de "preservar a informação enciclopédica" (sejá lá o que isso signifique), pela participação de alguns "brucutus" auto denominados wikipedistas.

O que parece estar acontecendo agora é que a turma da censura não está dando conta do recado. Talvez por serem em menor número, talvez por não receberem a devida recompensa financeira ou pelo não reconhecimento como "grandes colaboradores da humanidade".

O fato é que sempre será necessário algum trabalho de edição, não apenas para corrigir falhas técnicas, como de (im)precisão histórica.

O problema acontece justamente quando você vende a idéia de que "esta é uma enciclopédia livre, onde qualquer um pode escrever". Livre virgula. Se não estiver enquadrado dentro do pensamento dominante por lá, você é sumariamente censurado por algum brucutu.

A notícia em questão dá um certo tom de desistência. É quase como se tivessem dito: ok, fomos derrotados pelos "pichadores" e a liberdade total não foi suficiente, por sí só, para manter uma autocritica minimamente razoável.

A pergunta que eu me faço é: será que em algum tempo, ou por algum tempo, houve liberdade total, tempo suficiente para que ela funcionasse como censora?

Divino Leitão disse...

Liberdade total eu vejo até como uma hiperbole, se é liberdade não cabe o total ou vigiada, como dizem por ai.

Ou é liberdade ou não é, não cabe meio termo.

O ponto é que a Wikipédia, por mais que se diga o contrário é uma área fechada dentro da real liberdade, ou seja a Internet.

Se os "donos" da Wikipédia resolverem mudar as regras não é difícil que isso se transforme num tiro no pé e surja a Wikipédia++ ou Livrepédia ou seja o que for.

O mérito do criador foi justamente descobrir uma fórmula eficaz para organizar o conhecimento, seja ele errado ou não.

Afinal as enciclopédias ditas "oficiais" tem várias informações que são contestadas ou historicamente ou cientificamente e até mesmo as publicações científicas mais solenes já foram alvo de "pixação" de espertalhões que inventam situações.

A wikipédia não será exceção e aposto que se começarem a bloquear ai mesmo que será alvo dos pixadores pois quanto mais difícil mais estimulante é.... pelo menos é o que dizem.

Particularmente sempre olho na Wikipédia apenas quando já verifiquei o tema em outras fontes, tais como blogs, notícias e sites especializados no tema que pretendo investigar.

Depois vou lá na wikipédia de confiro.

Antigamente corrigia os termos que eu tinha certeza que estavam errados e justamente a dificuldade, cada vez maior em fazer isso, foi me desestimulando a fazer.

Talvez a wikipédia devesse investir em conseguir mais brucutus e não em fechar suas portas.

Vejo isso como um belo parque, cercado de grades mas vazio... justamente porque dificultando a entrada o interesse também se reduz.

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