sábado, 7 de março de 2009

Eu acho que NÃO vi um gatinho!

Se você morou nas vizinhanças do planeta Terra nos últimos 30 anos certamente deve conhecer Garfield, o gato amarelo, gordo e cínico que gosta de comer lasanha, chutar o traseiro do cão Odie e esmagar aranhas com um jornal (nem sempre nessa mesma ordem). As tiras do felino são publicadas diariamente em mais de 2.500 jornais em todo o mundo, renderam uma série de desenhos para a TV, três filmes para o cinema e o carinho incondicional de milhares de fãs, eventualmente expresso em tosqueiras não menos divertidas como o Lasagna Cat.

Menos sorte teve o cartunista Jonathan Q. Arbuckle, que além de viver constantemente caindo nas armadilhas de seu gato famoso, ainda se veste mal, é atrapalhado, deprimido e um permanente fracasso com as mulheres (além de nunca sabermos o que significa o "Q" em seu nome). Quer dizer: pelo menos até o irlandês Dan Walsh, incentivado por uma idéia surgida em fóruns de discussão de quadrinhos na internet, resolver apagar digitalmente o Garfield de suas histórias, trazendo assim o holofote para os conflitos (não) existenciais do atormentado Jon.

Nascia aí o projeto Garfield Minus Garfield, que nas palavras de seu autor, "é um site dedicado a remover o Garfield das suas próprias tirinhas para revelar a angústia existencial de um certo jovem Sr. Jon Arbuckle". O resultado impressiona pela capacidade de parecer algumas vezes engraçado, outras vezes triste, mas quase sempre estranho e provocador.









Graficamente, os espaços vazios de onde Garfield e Odie são subtraídos acentuam o isolamento e a solidão de Jon, enquanto a narrativa, simplificada ao extremo de um non-sequitur, o faz transitar pelos limites mas sombrios de sua existência patética, tal qual um Charlie Brown - outro proprietário disfuncional de um tirano de quatro patas célebre - crescido. Ou pelo menos, se esforçando para parecer assim (Freud teria orgulho deste rapaz).

Excepcionalmente, esta brincadeira com (ou sem?) um dos mais balofos pesos-pesados da indústria do licenciamento não terminou com o pai de Garfield e alguns sujeitos com maletas de violino fazendo uma visitinha a seu autor. Em vez disso, Jim Davis elogiou a idéia, chegando a lançar o seu próprio livro de tirinhas baseado nela, com introdução escrita por Walsh. Publicações como Time, Rolling Stone, Washington Post e New York Times também reagiram favoravelmente ao projeto, conferindo ao músico irlandês mais reconhecimento do que ele já havia alcançado em cerca de 15 anos de carreira.

"Passei todo esse tempo tentando aparecer na Rolling Stone, e tudo o que eu precisava fazer pra conseguir isso era tirar o Garfield de suas tirinhas", comentou ele certa vez em uma entrevista, bem-humorado. Pois é: como a balança do Garfield gostaria de dizer, às vezes menos é mais.

2 comentários

Divino Leitão disse...

Zenzazional CC...

Sempre fui fã do Garfield e nunca percebi a importância do próprio Jon nas tirinhas, algo que provavelmente o cartunista nunca se deu conta também.

Me lembrou aquela história - nunca confirmada - de que o inventor daquela bolinha de plástico que se coloca na ponta dos grampos faturou mais do que o inventor do próprio grampo, questão de fazer uma releitura do que aparentemente não é tão óbvio, o próprio óvulo do Colombo, se é que me entendem.

Renato Degiovani disse...

Fico impressionado não pela ausência do bichano em sí mesma, mas pelo fato dela comprovar a sua imensa significância no contexto. Ele está sempre lá, embora não esteja grafado.

O que nos leva a constatar que a angústia existencial do Jon só é digna da Rolling Stone porque ele, o gato, transcende o traço.

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